Despertar potenciais: uma lição que aprendi com meus pais
Uma lição aprendida com meu pai e que hoje ensino como mãe, professora, esposa e serva de Deus: liderar é acreditar no que o outro pode se tornar.
Hoje, relembrando uma conversa despretensiosa com meu esposo, fui levada de volta a uma das memórias mais marcantes da minha infância. Eu devia ter uns treze anos quando disse ao meu pai que queria um pandeiro. Ele não hesitou. Pegou algumas moedas, foi até o bar do Mário, jogou na velha máquina de caça-níquel e, surpreendentemente, ganhou exatamente o valor necessário: 30 reais. Voltou pra casa com um sorriso e um pandeiro nas mãos.
Esse era o meu pai: um homem simples, mas com um olhar atento para os nossos interesses. Sabia que eu gostava de ler, e mesmo sem livros serem acessíveis na época, apareceu um dia com um título que alguém tinha indicado no bar: “Você gosta de ler, então leia”, disse ele, quase como um desafio.
Quando minha irmã quis aprender violão, ele comprou um. Ela fez um mês de aula e desistiu, e adivinha quem aprendeu? Eu. Ele via um desenho numa revista e jogava a isca: “Você gosta de desenhar? Duvido você fazer igual”. E lá ia eu tentar. Karatê, natação, pescaria... nada era impossível. Ele nos dava a chance de experimentar. E isso fez toda a diferença.
Meu pai talvez nunca tenha lido um livro de liderança, mas foi um dos maiores líderes que conheci.
E é aí que entra a reflexão: quantos líderes, seja na igreja, no trabalho ou mesmo em casa, se colocam nessa posição de despertadores de potencial?
Infelizmente, muitos ainda acreditam que liderar é apenas mandar, organizar, cobrar resultados. Mas liderar, de verdade, é apostar nas pessoas. É enxergar o brilho nos olhos, o interesse, mesmo que pequeno, e dizer: “Vai lá, tenta! Eu acredito em você.”
A verdadeira liderança é generosa. Ela não tenta moldar as pessoas para um padrão, mas cria ambientes seguros para que cada um floresça como é.
Isso não apenas contribui para o despertar de potenciais individuais, mas também impulsiona comunidades inteiras rumo à plenitude do propósito divino. Uma igreja que encoraja seus membros a desenvolverem seus dons e talentos se torna um corpo vivo, dinâmico e saudável, que avança na direção de Cristo, conforme Efésios 4:13: "até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo." Da mesma forma, uma empresa que valoriza as habilidades de seus colaboradores não só cresce em resultados, mas se torna um instrumento de transformação social, promovendo dignidade, justiça e contribuição real para o mundo — princípios alinhados com Colossenses 3:23: “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens.” E dentro de casa, quando pais reconhecem e incentivam os interesses de seus filhos, estão plantando sementes de confiança e identidade, que florescem em relacionamentos saudáveis e famílias fortalecidas — como diz Provérbios 22:6: "Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo com o passar dos anos não se desviará deles."
Despertar dons é, na verdade, cooperar com o que o próprio Deus já colocou em cada pessoa. É ser parceiro Dele na edificação de vidas, famílias, igrejas e nações.
E essa não foi apenas uma lição que aprendi com meus pais — especialmente com meu pai, que mesmo com recursos limitados teve uma visão generosa e ousada sobre o potencial dos filhos. Hoje, é uma lição que ensino. Ensino como mãe, quando observo os interesses dos meus filhos e procuro não podar sonhos, mas incentivá-los a experimentar. Ensino como professora, quando crio espaços de aprendizagem onde cada aluno pode ser quem é e descobrir seus talentos. Ensino como funcionária, ao colaborar com meus colegas de forma respeitosa, encorajando ideias e valorizando contribuições. E, algumas vezes, ensino até como esposa, quando escolho apoiar os sonhos do meu companheiro, mesmo quando parecem distantes ou desafiadores.
Porque despertar potencial não é algo que se faz só com palavras — é uma escolha diária, feita com atitudes, atenção e amor. É assim que se forma uma geração mais confiante, corajosa e comprometida com o bem.
"Despertar dons é cooperar com o que Deus já colocou em cada pessoa."
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