"A língua é o chicote da bunda"



Como agir quando vemos erros nos outros?

Você já ouviu o ditado "a língua é o chicote da bunda"? Minha vó Judite sempre alertava quanto a isso. Ele nos lembra que aquilo que falamos pode ter consequências inesperadas, muitas vezes desagradáveis. Esse ditado nos ensina a ter cuidado com o que falamos, porque, muitas vezes, acreditamos que já superamos determinada fraqueza ou que não temos a falha que estamos apontando nos outros—e, quase que imediatamente, Deus nos coloca em uma situação que nos prova justamente nesse ponto.

Lembro de uma vez em que critiquei uma pessoa por não conseguir superar uma dificuldade de relacionamento entre a sogra e a filha dela. Achei que ela estava exagerando, que deveria simplesmente "virar a página". Mas, pouco tempo depois, minha própria filha passou por uma situação parecida, e lá estava eu, sentindo na pele a dificuldade de lidar com aquilo. Naquele momento, precisei decidir: agiria como ela ou como Jesus nos ensina, perdoando?

E não foi só essa vez. Nossa, quantas vezes já passei por isso! Com meus filhos, com alunos, com colegas de trabalho, com meu esposo, com minhas irmãs e minha mãe, irmãos e irmãs da igreja. Critiquei, apontei e, depois, Deus permitiu que eu vivesse uma situação semelhante. A grande diferença? Quando foi comigo, eu tive misericórdia de mim mesma. Mas, quando era com os outros, não.

É curioso como, muitas vezes, nos deparamos com pessoas que passam a vida criticando os outros, apontando falhas e julgando cada atitude alheia, sem jamais voltar o olhar para si mesmas. O mais irônico é que, em diversas situações, seus próprios erros são os mesmos que tanto condenam, ainda que se apresentem de forma disfarçada ou sob uma justificativa conveniente. Outras vezes, suas falhas são diferentes, mas não menos graves, o que torna o julgamento ainda mais contraditório. No entanto, o mais desconfortável é quando nos reconhecemos nesse espelho, percebendo que, de certa forma, estamos fazendo exatamente aquilo que criticamos nos outros. Afinal, é sempre mais fácil enxergar o cisco no olho alheio do que a trave no próprio olhar.

Algumas pessoas, dentro de um corpo cristão, escolhem manter-se à margem, evitando envolvimento profundo com os irmãos e abstendo-se de qualquer posicionamento, sob o pretexto de evitar erros ou conflitos. À primeira vista, essa postura pode parecer prudente, uma tentativa de resguardar-se contra tropeços ou julgamentos precipitados. No entanto, a fé cristã não é um chamado ao isolamento, mas à comunhão e ao serviço mútuo.

A Bíblia nos ensina que devemos exortar uns aos outros:
📖 "Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado." (Hebreus 3:13)

Devemos carregar as cargas uns dos outros:
📖 "Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo." (Gálatas 6:2)

E crescer juntos como membros de um mesmo corpo:
📖 "Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo, assim também com respeito a Cristo." (1 Coríntios 12:12)

Permanecer calado diante do erro ou se distanciar dos irmãos por medo de se envolver não é prudência, mas negligência. A omissão diante das necessidades da igreja e a recusa em contribuir para a edificação coletiva revelam, muitas vezes, uma indiferença disfarçada de cautela.

E essa indiferença, longe de ser um refúgio seguro, também é um pecado, pois:
📖 "Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado." (Tiago 4:17)

Deus nos chama à ação, à comunhão verdadeira e ao amor que se expressa em envolvimento, cuidado e zelo pela igreja.

Assim, esse ciclo de críticas e provações me fez perceber que a fala precipitada pode ser uma armadilha, nos tornando juízes implacáveis dos outros, enquanto esperamos indulgência para nós mesmos. A verdade é que todos temos nossas lutas, e muitas vezes Deus permite que enfrentemos as mesmas dificuldades que julgamos nos outros para nos ensinar humildade, empatia e, acima de tudo, o verdadeiro significado da graça.

Mas será que isso significa que nunca devemos comentar sobre atitudes de terceiros que julgamos não condizentes com a Bíblia? Como agir corretamente nesses casos?

A Bíblia não nos ensina a sermos omissos diante do erro, mas sim a termos sabedoria e amor ao abordar essas situações. O problema não está apenas em falar, mas no como e no porquê falamos.

Falar com amor e sabedoria

Se percebemos que alguém está agindo de maneira inconsistente com os ensinamentos bíblicos, nossa abordagem deve ser feita com humildade, amor e intenção de edificar. Em Efésios 4:15, lemos sobre a importância de "falar a verdade em amor", ou seja, nossa fala deve ser direcionada para a restauração e não para condenação.

Antes de apontar o erro de alguém, pergunte-se:
✅ Minha intenção é ajudar ou apenas criticar?
✅ Estou falando diretamente com a pessoa ou espalhando para terceiros?
✅ Minhas palavras refletem o amor de Cristo?

Evitar fofoca e julgamento precipitado

A Bíblia nos alerta contra a fofoca, que pode destruir reputações e gerar divisões (Provérbios 11:13; Tiago 4:11). Se o objetivo não for ajudar, mas apenas comentar sobre a falha de alguém, é melhor guardar silêncio.

Mateus 7:3-5 nos ensina a primeiro olhar para nós mesmos antes de apontar os erros dos outros. Muitas vezes, enxergamos o cisco no olho do irmão, mas ignoramos a trave em nosso próprio olho.

Seguir o Princípio Bíblico da Correção

Jesus nos deixou um modelo de como lidar com pecados alheios em Mateus 18:15-17:

1️⃣ Converse diretamente com a pessoa, em particular.
2️⃣ Se ela não ouvir, leve uma ou duas testemunhas.
3️⃣ Se ainda assim não houver mudança, leve a questão à comunidade.

Esse método nos ensina que, antes de falar para outros sobre alguém, devemos buscar um diálogo sincero e respeitoso com a própria pessoa.

Orar antes de falar

Antes de corrigir alguém, é essencial buscar sabedoria em oração. Muitas vezes, podemos estar interpretando a situação de maneira errada ou deixando nossas emoções influenciarem nosso julgamento. Tiago 1:5 nos encoraja:

"Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida."

Se orarmos antes de falar, evitaremos muitos conflitos desnecessários.

No entanto, quando a pessoa em questão está em posição de liderança e já demonstrou resistência a críticas, é essencial agir com ainda mais sabedoria, prudência e discernimento.

1. Buscar conselho com outros irmãos sábios

Antes de qualquer abordagem direta, é válido conversar com irmãos maduros na fé, que possam ajudar a avaliar a situação de maneira justa. Isso não significa fazer fofoca, mas sim buscar discernimento para saber:

✅ Se sua percepção do problema está correta ou se há algum viés pessoal.
✅ Se há uma abordagem mais eficaz e respeitosa para tratar o assunto.
✅ Se há necessidade de intervenção de outras lideranças.

Provérbios 11:14 ensina que:
"Não havendo sábia direção, cai o povo, mas na multidão de conselheiros há segurança."

Ou seja, buscar orientação evita decisões precipitadas ou injustas.


2. Examinar a própria intenção e coração

Antes de corrigir alguém, especialmente uma liderança, é importante se perguntar:

  • Minha motivação é edificar ou apenas desabafar uma insatisfação?

  • Já tentei compreender os motivos da pessoa ou apenas julguei suas ações?

  • Estou orando para que Deus me guie na abordagem certa?

Mateus 7:5 nos alerta:
"Tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão."


3. Seguir o princípio de Mateus 18, mas com cautela

Se a questão for grave e prejudicial à comunidade, pode ser necessário buscar outras testemunhas e até a liderança maior da igreja para tratar do assunto.

Jesus nos ensina em Mateus 18:15-17 que, quando uma pessoa não aceita a correção particular, pode ser necessário envolver mais irmãos. No caso de um líder, isso pode significar levar a questão a pastores ou conselheiros mais experientes.


4. Orar e esperar o tempo certo

Nem sempre uma pessoa resistente vai mudar imediatamente. Às vezes, a melhor abordagem é orar por ela e esperar um momento em que seu coração esteja mais receptivo.

Provérbios 15:1 nos lembra:
"A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira."

Se a pessoa tende a se colocar como vítima e justificar sua ira, insistir no momento errado pode gerar mais conflitos do que soluções.


Conclusão: Como Proceder?

Converse com irmãos sábios para avaliar se seu julgamento está correto.
Examine seu próprio coração antes de agir.
Busque a abordagem correta, com amor e discernimento.
Ore para que Deus abra portas e prepare o coração da pessoa.

Evite fofocas e julgamentos precipitados.

Fale com amor e humildade.
Busque corrigir diretamente a pessoa, seguindo os ensinamentos de Mateus 18.
Ore pedindo sabedoria antes de falar.

Se o objetivo for ajudar e edificar, falar pode ser necessário. Mas se for apenas criticar ou expor, o silêncio é a melhor opção. Se a pessoa realmente não estiver aberta à correção, lembre-se de que a mudança verdadeira vem do Espírito Santo, não de nosso esforço humano. Faça sua parte com sabedoria e entregue o resto a Deus. Afinal, como diz Provérbios 21:23

"Quem guarda a boca e a língua guarda a sua alma das angústias."

Que nossas palavras e atitudes sejam sempre um reflexo do amor de Cristo! 🙏✨


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