Autoconfiança



Você já se sentiu acusado de ser "grosso" ou "orgulhoso" só por dizer o que pensa com clareza? Ou já percebeu que sua firmeza incomoda quem esperava submissão? A personagem Elizabeth Bennet, do clássico Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, é um retrato perfeito disso. Ela é uma mulher inteligente, segura de si e com valores bem definidos — e por isso, constantemente mal interpretada. Elizabeth não teme falar com franqueza, mesmo em uma sociedade que esperava das mulheres apenas silêncio e sorrisos. Sua atitude nos lembra que ser claro e firme não é um defeito — é uma virtude, especialmente quando guiada pelo respeito e pela verdade.

Você já percebeu como algumas pessoas se incomodam quando encontram alguém confiante, que se valoriza e fala claramente o que pensa? Parece que, de repente, autoestima vira defeito. Mas por quê?

A verdade é que uma pessoa com autoestima saudável pode, sem querer, funcionar como um espelho para quem ainda não se sente confortável consigo mesmo. A segurança de alguém pode evidenciar a insegurança de outro. E isso gera desconforto.

Nossa sociedade, e até mesmo alguns ambientes religiosos, confundem autoconfiança com arrogância. Somos ensinados a sermos modestos, a não chamar muita atenção e a evitar dizer o que pensamos para não parecer “metidos”. Só que existe uma grande diferença entre ser seguro de si e ser prepotente.

Mas afinal, o que é arrogância?

Muita gente confunde autoestima com arrogância, mas são coisas bem diferentes. Autoestima é saber quem você é em Deus e viver de forma coerente com esse valor. Arrogância é se colocar acima dos outros, desprezar o próximo e achar que não precisa de ninguém — nem de Deus.

A arrogância se alimenta de comparação. Precisa diminuir o outro para se sentir superior. Ela é barulhenta, inflexível, insensível. Já a autoconfiança verdadeira é silenciosa e segura, porque não precisa provar nada a ninguém. Quem tem uma autoestima firmada em Cristo reconhece seus dons, mas também seus limites. Sabe que tudo o que tem vem de Deus — e por isso, não se exalta, mas também não se anula.


A Bíblia é clara sobre os perigos da arrogância:


- “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.” (Tiago 4:6)  

- “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda.” (Provérbios 16:18)


Note que a questão não é se valorizar — é se exaltar acima dos outros e acima de Deus. Essa é a raiz do problema.


Jesus, que tinha todo o poder, lavou os pés dos discípulos. Ele é o maior exemplo de alguém que sabia exatamente quem era — o Filho de Deus — e mesmo assim servia com amor, sem arrogância.


Portanto, se a sua confiança vem acompanhada de humildade, serviço e respeito ao próximo, ela é bíblica e saudável. O problema não é ser confiante — é ser soberbo. E tem diferença, sim.


Mas o que Jesus pensa sobre isso?

Jesus nos ensinou a amar o próximo como a nós mesmos (Marcos 12:31). Isso já pressupõe que devemos ter amor por nós. Cuidar de si, valorizar-se, reconhecer os próprios dons e limites faz parte da caminhada cristã. E mais: Jesus sabia exatamente quem Ele era. Ele falava com firmeza, com autoridade, e ainda assim, com amor e humildade.

Muita gente se esquece que humildade bíblica não é autodepreciação, é reconhecer que tudo vem de Deus — inclusive nosso valor. Ter uma autoestima saudável é aceitar com gratidão aquilo que o Senhor colocou em você.

Pessoas confiantes também são mais difíceis de manipular. Elas sabem o que querem, conhecem seus limites e não têm medo de dizer “não”. Isso quebra a lógica de controle que muitos tentam manter nos relacionamentos, nas empresas, até nas igrejas.

Falar com clareza é um princípio cristão. Em Efésios 4:15, somos chamados a "falar a verdade em amor". Jesus fazia isso o tempo todo: com doçura quando necessário, com firmeza quando exigido — sempre com propósito, sempre com compaixão.

Portanto, não se desculpe por ter autoestima. Não apague sua luz para caber em ambientes que não querem amadurecer. Sua confiança, quando está firmada em Cristo, não é ameaça — é testemunho.

Seja firme, mas com amor. Seja claro, mas com respeito. Seja você, mas sempre à imagem de Cristo.


Quando você é firme com amor, claro com respeito, e mesmo assim é acusado de ser “grosso”, isso muitas vezes diz mais sobre as feridas, expectativas ou distorções da outra pessoa do que sobre você.


Algumas possibilidades:


Pessoas que confundem limites com rejeição: Para quem nunca aprendeu a lidar com o “não”, com a verdade dita com clareza ou com alguém que sabe o que quer, qualquer atitude firme parece agressão. Não é sua firmeza que é grosseria — é a sensibilidade mal curada do outro.


Pessoas que se alimentam de controle emocional: Gente que está acostumada a manipular e dominar fica desconfortável com quem não se deixa dobrar. Acusar você de ser “grosso” pode ser uma forma de tentar silenciar sua firmeza.


Pessoas que ainda não entenderam o equilíbrio cristão entre verdade e amor: Há quem acredite que ser cristão é ser sempre passivo, sorridente e submisso. Mas Jesus, embora manso e humilde, não era passivo. Ele confrontava, corrigia e se posicionava com firmeza — por amor.


Então, o que fazer?


Examine seu coração diante de Deus. Se você foi firme, mas com amor; claro, mas com respeito — então você agiu como Cristo.


Não viva refém da opinião dos outros. Isso não é orgulho, é maturidade. Gálatas 1:10 diz: “Por acaso busco eu agora o favor dos homens, ou o de Deus?”


Perdoe, mas proteja-se se for preciso. Perdoar não é continuar se expondo a ambientes tóxicos ou pessoas abusivas. É possível amar de longe. Jesus perdoou a todos, mas também se afastava quando necessário.


Você não precisa se submeter a conviver com pessoas que constantemente distorcem sua intenção, anulam sua identidade ou ferem sua dignidade. A Bíblia ensina a suportar uns aos outros em amor, mas não a se submeter à manipulação ou violência emocional disfarçada de espiritualidade.

Assim como Elizabeth Bennet, que não disfarçava quem era nem escondia o que pensava para agradar à sociedade, nós também somos chamados a viver com verdade e dignidade. Mas há um exemplo ainda mais elevado: nosso Senhor Jesus Cristo, que foi até o fim em suas convicções, mesmo sendo rejeitado, caluniado e crucificado. Por quê? Porque o amor verdadeiro não mente, não dissimula, não omite. Jesus nos mostrou que falar a verdade em amor é um ato de coragem — e também de graça. Se a sua firmeza é motivada pelo amor e sustentada pela integridade, continue. Você não é grosso, nem arrogante — você é luz. E, como toda luz, pode incomodar quem ainda vive na sombra da conveniência. Mas foi para brilhar assim que você foi chamado.










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