A Verdade deve ser defendida, mas com amor
C.S. Lewis, em Cristianismo Puro e Simples, apresenta o cristianismo como uma fé racional, fundamentada na verdade e na transformação do caráter. No entanto, a busca pela verdade nunca deve ser separada do amor e do respeito. Muitos cristãos enfrentam dilemas sobre quando questionar e quando calar diante de situações que parecem fugir da ordenação bíblica. Mas será que questionar é sempre desrespeitoso?
Lewis argumenta que a fé cristã não é uma mera opinião, mas uma realidade objetiva que exige posicionamento. No entanto, ele também destaca que a virtude cristã não se resume apenas à doutrina correta, mas à vivência do amor ao próximo. Efésios 4:15 nos orienta a falar a verdade em amor. Isso significa que a correção é necessária, mas sua eficácia depende da forma como é feita.
A Bíblia nos dá exemplos claros de confronto respeitoso. Paulo repreendeu Pedro publicamente (Gálatas 2:11-14), mas não para humilhá-lo, e sim para corrigir uma incoerência que prejudicava o Evangelho. Por outro lado, os fariseus eram mestres na exatidão doutrinária, mas desprovidos de misericórdia, e Jesus os repreendeu duramente por isso (Mateus 23).
O Que é desrespeito?
Ser desrespeitoso não significa apenas usar palavras ofensivas, mas também agir de forma arrogante, menosprezando os outros. A Bíblia nos ensina que até mesmo o tolo pode parecer sábio quando sabe calar (Provérbios 17:28). O verdadeiro cristianismo não promove disputas infrutíferas, mas edifica.
Respeito não significa concordância irrestrita, mas sim a disposição de tratar os outros com dignidade. Questionar aquilo que fere os princípios bíblicos é necessário, mas nunca de forma rude ou soberba. Se o objetivo for edificar, então o tom da conversa deve refletir a humildade e a graça de Cristo.
Como a verdade é expressa? A transparência é essencial para a honestidade, mas quando falamos sem filtro, sem considerar o impacto de nossas palavras, podemos ferir em vez de edificar.
A Bíblia nos ensina que a verdade deve ser dita em amor (Efésios 4:15). Isso significa que não basta ser sincero; é preciso ser sábio. Provérbios 15:1 nos lembra que “a resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira”. Em outras palavras, a sinceridade sem empatia pode se tornar dureza de coração.
Jesus foi transparente, mas nunca cruel. Ele repreendeu os fariseus com firmeza porque suas ações prejudicavam os outros (Mateus 23). Mas, ao lidar com pecadores arrependidos, Ele usava a verdade para curar, não para ferir (João 8:10-11).
Há, porém, momentos em que ser cuidadoso demais pode parecer ineficaz, especialmente com pessoas que não querem admitir seus erros. No entanto, o objetivo do cristão não é apenas convencer o outro, mas agir de maneira que glorifique a Deus e mantenha a consciência limpa diante d’Ele.
Jesus sabia quando usar palavras firmes (como com os fariseus) e quando ser paciente (como com a mulher samaritana). A questão não é apenas o que dizer, mas discernir se a pessoa está aberta à verdade. Provérbios 9:8 nos ensina: “Não repreendas o escarnecedor, para que não te odeie; repreende o sábio, e ele te amará.” Isso mostra que, às vezes, insistir na correção pode ser inútil quando alguém não está disposto a ouvir.
Isso significa que não devemos falar a verdade? De forma alguma. Mas precisamos avaliar se estamos falando para edificar ou apenas para descarregar nossa frustração. Jesus disse: “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas” (Mateus 7:6), indicando que a verdade deve ser compartilhada com discernimento.
Se uma pessoa rejeita a correção, o melhor pode ser orar por ela e seguir o conselho de Tito 3:10: “Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez.” Nossa missão é falar a verdade, mas não podemos forçar ninguém a aceitá-la.
Ou seja, falar sem esconder é importante, mas o amor exige que escolhamos bem as palavras e a forma como nos expressamos. Verdade sem amor pode ser brutalidade, e amor sem verdade pode ser conivência com o erro. O equilíbrio entre ambos reflete o caráter de Cristo.
O cristianismo puro e simples, como descrito por Lewis, não é apenas um conjunto de doutrinas corretas, mas uma transformação de caráter à semelhança de Cristo. Isso implica defender a verdade sem cair na armadilha da contenda desnecessária. Se questionamos algo, que seja com respeito. Se calamos, que seja por sabedoria e não por medo. O equilíbrio entre esses dois atos revela o verdadeiro seguidor de Cristo.
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