Sobre alfinetes...
🔸 Coisas Pequenas, Sentimentos Grandes
Reflexões sobre o capítulo “História do Alfinete de Fralda” – A Bolsa Amarela
No capítulo “História do Alfinete de Fralda”, Lygia Bojunga nos apresenta um personagem improvável: um alfinete. Esquecido, enferrujado e jogado na rua, ele ganha voz e clama por cuidado:
“Me guarda? Já não aguento mais viver aqui jogado...”
Esse simples trecho, construído com personificação, nos faz refletir sobre a forma como tratamos aquilo que, aparentemente, não tem mais utilidade. O alfinete representa tudo o que é invisibilizado — objetos, pessoas, memórias, ideias. E mais ainda: nos representa.
Na adolescência, eu costumava olhar o mundo com esse mesmo olhar poético. Cada coisa tinha um significado, um porquê. Mas com o tempo, fui atropelada pela rotina: o trabalho, os cuidados com a casa, os filhos, o casamento… E, sem perceber, deixei de enxergar os “alfinetes” da vida. Aqueles detalhes sutis que antes me encantavam passaram a ser apenas parte do cenário.
Mas a verdade é que tudo — absolutamente tudo — existe por algum motivo. Cada objeto, gesto ou escolha tem um propósito. E quando algo deixa de cumprir seu papel inicial, ainda assim não desaparece: ele impacta o mundo de alguma forma.
Se for descartado corretamente, pode até se transformar em algo novo.
Mas se for jogado ao acaso, como o alfinete da história, pode machucar, enferrujar, contaminar, gerar consequências negativas.
Ou seja, nada é em vão. Mesmo aquilo que não enxergamos mais como importante continua existindo e influenciando nosso entorno. Por isso, não podemos viver a esmo, de forma automática, insensível. Precisamos recuperar o olhar atento, o cuidado com os detalhes, o respeito pelo que parece pequeno demais para importar.
🔸 Talvez esteja na hora de limpar os “alfinetes” da nossa vida e perguntar: o que estou descartando sem perceber o valor?
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