ZDP - ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL
Lev Vygotsky, psicólogo russo, afirmou que a aprendizagem acontece de forma mais eficaz quando o indivíduo é desafiado a sair de sua zona de conforto, entrando naquilo que ele chamou de “zona de desenvolvimento proximal” — um espaço entre o que a pessoa já sabe e o que ainda não domina, mas pode aprender com apoio. Nesse sentido, o desconforto e a sensação de não saber não são obstáculos, mas condições essenciais para o crescimento. Esse mesmo princípio pode ser observado na caminhada do cristão, pois a fé não se desenvolve no terreno da certeza absoluta, mas, muitas vezes, na terra árida das dúvidas, dos silêncios e das esperas.
A vida com Deus não é uma trilha marcada por respostas prontas e soluções imediatas. Pelo contrário, quem decide seguir a Cristo logo descobre que há muitas perguntas que permanecem em aberto e que nem sempre os “porquês” da vida são respondidos. No entanto, é nesse espaço de incerteza que a fé floresce de maneira mais autêntica. A sensação de não saber o que fazer, de não entender os caminhos de Deus, de não ter controle sobre o que virá a seguir — tudo isso, que humanamente pode parecer fraqueza, na perspectiva divina é campo fértil para o amadurecimento espiritual. O apóstolo Paulo compreendeu essa lógica quando afirmou que “quando sou fraco, então é que sou forte” (2 Coríntios 12:10), revelando que é na vulnerabilidade que somos mais dependentes de Deus.
Como o aluno em sala de aula precisa do desconforto cognitivo para expandir seus horizontes, o crente precisa, muitas vezes, do desconforto espiritual para amadurecer sua fé. Não saber o que Deus está fazendo, não compreender o motivo de certas dores ou de determinados silêncios divinos, nos empurra para mais perto dEle — não com as certezas de quem exige explicações, mas com a confiança de quem sabe em quem tem crido. O livro de Hebreus define a fé como “a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos” (Hebreus 11:1), ou seja, crer é justamente manter-se firme diante daquilo que não se vê, não se entende, mas se espera com esperança.
Portanto, longe de ser sinal de fraqueza ou de crise espiritual, o desconforto na caminhada cristã pode ser entendido como parte do processo de discipulado. Ser discípulo é, antes de tudo, ser aprendiz. E todo aprendizado verdadeiro envolve dúvida, questionamento, reavaliação. A jornada com Deus é, muitas vezes, um processo de desaprender aquilo que achávamos certo, para aprender, com humildade, a lógica do Reino. Desconforto e fé caminham juntos. Se você está em um momento em que tudo parece incerto, em que as respostas fogem e o céu parece em silêncio, talvez esse seja exatamente o momento em que Deus mais está trabalhando em seu interior. Aprender a descansar nesse “não saber” é uma forma de confiar. E confiar, no fim das contas, é o que mantém viva a essência da fé cristã.
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