O país do Carnaval

O Brasil é mundialmente conhecido como sendo "O país do Carnaval". 
Culturalmente falando, para quem admira a festa, poderia soar um elogio.
Entretanto, haja vista a situação social, política, econômica, enfim, o cotexto nacional, a referência assumiu uma conotação irônica. Assim, "O país do Carnaval" significa, o país onde tudo é permitido, como no período de festas onde as pessoas permitem-se sair de casa, fantasiadas, mascaradas e cometerem toda sorte de transgressões, porque na quarta-feira de cinzas... "Para os antigos judeus, sentar-se sobre as cinzas já significava arrependimento dos pecados e volta para Deus."¹

Só se esquecem que arrepender-se significa


Dicionário
arrepender
verbo
  1. 1.
    intransitivo e pronominal
    lamentar o mal cometido; sofrer pela falta praticada.

    "ele arrependeu e encontrou a paz"
  2. 2.
    pronominal
    retroceder com relação a atitude(s) ou compromisso(s) tomados.

    "arrependeu-se de ter votado no candidato populista"
  3. 3.
    pronominal
    lamentar ato ou procedimento do passado.

    "casou muito cedo e se arrependeu"
  4. 4.
    pronominal
    B infrm. mudar (o tempo) de bom a ruim.

    "achou que o tempo ia se a. e pegou o guarda-chuva"

Assim, se no ano seguinte você faz tudo de novo, isso falando só do Carnaval, então não houve ARREPENDIMENTO. 

E, biblicamente falando

Estes foram queimados pelo forte calor e amaldiçoaram o nome de Deus, que tem domínio sobre estas pragas; contudo, recusaram arrepender-se e glorificá-lo.
Apocalipse 16:9

e blasfemavam contra o Deus dos céus, por causa das suas dores e das suas feridas; contudo, recusaram arrepender-se das obras que haviam praticado.
Apocalipse 16:11

Dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua imoralidade sexual, mas ela não quer se arrepender.
Apocalipse 2:21

Consequência da falta de arrependimento: estar separado de DEUS!

Agora, voltando à minha motivação para esta postagem.... 

Dias atrás vi uma foto em uma rede social que mostrava um garotinho de aproximadamente oito anos deitado no chão do que parecia ser um lugar público, e perto dele estava uma garotinha de uns quatro anos mais ou menos, também deitada sobre o chão, sujos, abandonados... e escrevi um comentário sobre o quanto me entristecia saber que o país tinha situações tão miseráveis e as pessoas insistiam em comemorar o carnaval.

Uma "amiga de rede", que mal conheço pessoalmente, respondeu ao meu comentário dizendo que aquela foto rodava na internet como se tivesse sido tirada em um bairro de São Paulo, mas que não haviam fontes seguras, que a foto poderia nem ter sido tirada no Brasil e, entre outras coisas, disse que não podemos "relacionar a miséria da sociedade brasileira ao Carnaval porque essa festa é uma base de sustentação da sociedade". Que não devemos, em nome da religião atribuir a decadência de nossa sociedade a uma manifestação cultural e corporal pois reprimir a cultura ao corpo é o que faz micro sociedades, como a indígena, por exemplo, desaparecerem. 

Como estamos nesses dias de carnaval, ouvi inúmeras pessoas, inclusive não crentes, afirmarem "detesto carnaval". 

Mas, porque sou cristã, se eu declaro isso nas redes sociais, vira um "preconceito por causa da minha religião". Se digo que não gosto de carnaval é porque "você é crente  e o pastor disse que não pode pular carnaval, que é pecado!" E não porque sou inteligente o suficiente para pesquisar a origem da festa e conceber que ela não traz benefício nenhum à sociedade.


Fiquei mais chocada com o comentário dela do que com a foto.

Sugeriu ainda, esta "amiga de rede", que eu lesse um artigo de Bakhtin, um filósofo. E eu fui ler, porque como educadora, antes de tudo, não gosto de basear a minha argumentação em suposições.

Aí vou pesquisar e dou de cara com isto:

"Para explicar a tenacidade da idéia de carnaval Mikhail Bakhtin cita a procura original da palavra, afirmando que é possível observar, desde a segunda metade do século XIX, os numerosos autores alemães defenderem a tese da origem alemã do termo carnaval, o qual teria a sua etimologia de Karne ou Karth, ou ‗lugar santo‘ (isto é, a comunidade pagã, os deuses e seus servidores) e de val (ou wal) ou ‗morto‘, ‗assassinado‘. Carnaval significaria, portanto, ‗procissão dos deuses mortos‘. Ou seja, a idéia de carnaval, em sua busca etimológica, é compreendida como a procissão dos deuses destronados.² 

"Não terás outros deuses além de mim. 
Êxodo 20:3

"Quem entre os deuses
é semelhante a ti, Senhor?
Quem é semelhante a ti?
Majestoso em santidade,
terrível em feitos gloriosos,
autor de maravilhas? Estendes a tua mão direita
e a terra os engole. 
Êxodo 15:11-12

O deus desta era cegou o entendimento dos descrentes, para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus. 
2 Coríntios 4:4


"Na concepção de Bakhtin a carnavalização não é um esquema externo e estático que se sobrepõe a um conteúdo acabado, mas uma forma flexível de visão artística, uma espécie de princípio holístico que permite descobrir o novo e o inédito. O carnaval na concepção do autor é o locus privilegiado da inversão, onde os marginalizados apropriam-se do centro simbólico, numa espécie de explosão de alteridade, onde se privilegia o marginal, o periférico, o excludente. O espetáculo carnavalesco – sem atores, sem palco, sem diretor – derruba as barreiras hierárquicas, sociais, ideológicas, de idade e de sexo. Representa a liberdade, o extravasamento; é um ―mundo às avessas‖ no qual se abolem todas as abscissas entre os homens para substituí-las por uma atitude carnavalesca especial: um contato livre e familiar entre os homens."² 


Soa bem bonito né... é uma forma de expressão artística.... promove contato livre com o próximo... 

Minha crítica é: 

Por que não promovermos, então, contato com o próximo pegando o dinheiro público que é investido nessas festas e investindo na infraestrutura de escolas, por exemplo, onde a população possa aprender a ler, escrever, pensar? 

E respondo: Porque, baseados nesses filósofos, as autoridades promovem um momento no ano  "onde os marginalizados apropriam-se do centro simbólico, numa espécie de explosão de alteridade, onde se privilegia o marginal, o periférico, o excludente. O espetáculo carnavalesco – sem atores, sem palco, sem diretor – derruba as barreiras hierárquicas, sociais, ideológicas, de idade e de sexo. Representa a liberdade, o extravasamento;"E, após esse momento, as pessoas voltam às suas rotinas, nada concreto muda em suas vidas. 

Se ao menos o Carnaval fizesse com que as pessoas pensassem na exploração que sofrem pelo sistema, ou na corrupção que cometem quando furam filas de vacina por conhecerem alguém que trabalha no posto de saúde, ou estacionam em lugares proibidos, ou quando jogam lixo e bitucas de cigarro no chão, ou quando usam drogas ilícitas financiando o tráfico e o crime,  ou descartam móveis usados em qualquer lugar, ou desperdiçam alimentos, enfim, se o carnaval fizesse, por meio das críticas realizadas nos carros alegóricos ou na fantasia dos foliões por exemplo, e depois do carnaval, suas atitudes mudassem e fôssemos mais honestos, solidários, aí sim eu poderia até concordar com a "amiga" sobre "a importância do carnaval como base de sustentação da cultura".

"Os ritos e espetáculos carnavalescos ofereciam uma visão de mundo, do homem e das relações humanas totalmente diferente, deliberadamente não oficial, exterior à Igreja e ao Estado – instituições com extrema hierarquia; pareciam ter se constituído, ao lado do mundo oficial, um segundo mundo e uma segunda vida. Essa segunda vida da cultura popular constrói-se como paródia da vida ordinária, como um mundo ao revés."²

Temos ainda que, se as manifestações artísticas propostas pelo carnaval refletem "relações humanas totalmente diferentes, deliberadamente não oficial, exterior à Igreja e ao Estado", suponho que o que a sociedade quer é nudez, promiscuidade, imoralidade, lixo, sexo exacerbado, vícios e por aí vai... 

Logo, o carnaval tem contribuído com a decadência de nossa sociedade que, ao invés de procurar agregar valores à vida, tem trazido a libertinagem do período de carnaval para o resto do ano. 

Bakhtin, citado pela "amiga" é um filósofo da linguagem, e Literatura eu entendo como uma expressão artística eficaz pois, na medida em que me faz pensar, ainda que alegoricamente nas estruturas sociais de qualquer época, muda minha cosmovisão e me faz agir de maneira diferente no mundo. 

"Diversas formas e gêneros do vocabulário familiar e grosseiro: a este respeito o Carnaval institui uma nova forma de comunicação, baseada no gesto e no vocabulário que decorre do nivelamento social e da abolição das formalidades e etiquetas. O uso generalizado de profanações e blasfêmias, juras, imprecações, obscenidades e expressões de teor insultuoso definem a linguagem carnavalesca na sua função ambivalente, ou seja, ao mesmo tempo humilhante e libertadora. Certas obscenidades ainda hoje conservam um sentido simultaneamente de insulto e elogio. "²

Não faz sentido pra mim de que forma, um período do ano onde posso agir como quiser, anti o sistema, contribui para a base da sociedade... isso é ilógico!

A "amiga de rede" disse que a impressão que passei foi de que devemos nos render à tristeza por causa da situação do país, que o Carnaval é um período de festa... 

Uma festa é uma solenidade comemorativa destinada a pessoas ou fatos importantes.

Me parece muito doentio RIR, festejar quando não há motivos para festa, especialmente em nosso país. 

Não sou COMUNISTA, não apregoo igualdade. Sei que as aflições, doenças e morte são consequências. Sempre houveram e sempre haverá desigualdade enquanto esta Terra existir.

Entretanto, acredito que devemos seguir o exemplo de Jesus que disse que deveríamos curar os enfermos, alimentar os famintos, consolar os tristes e nos alegrar com os alegres.

SE o Carnaval se chamasse FESTA À VIDA, COMEMORAÇÃO DE VALORIZAÇÃO DAS PESSOAS, ou qualquer coisa do gênero, eu até tentaria entender a necessidade da mesma. 

MAS, uma festa de promoção à Carne e seus desejos desenfreados, de promoção da rebeldia??? 

SE Deus não instituísse leis e governos, viveríamos um eterno carnaval. Deus nos livre disso! que já estamos bem perto aqui no Brasil. Aliás, como comecei escrevendo, já somos mundialmente conhecidos por este apelido degradante... 

Quem quiser festejar nesse período, então, que festeje. Mas eu vou aproveitar pra refletir... e continuo pensando, não tem motivo pra festa nesse país...






Fontes:

¹https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/quaresma/qual-o-sentido-da-quarta-feira-de-cinzas/

²http://e-revista.unioeste.br/index.php/travessias/article/viewFile/4370/3889
  • https://www.bibliaon.com/pesquisa.php?q=arrepender

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